O futuro da rede multi-clubes no Brasil e no mundo
A expansão das redes multi-clubes enfrenta desafios e pode estar chegando ao limite. O que esperar agora?

Uma nova geração de SAFs está surgindo no Brasil! Após a chegada de investidores estrangeiros e empresários nacionais endinheirados, consórcios locais, muitas vezes aliados a ex-atletas renomados, começam a estudar a aquisição de clubes tradicionais. A estratégia é clara: comprar clubes financeiramente decadentes, reestruturá-los e valorizá-los para uma venda futura. O entusiasmo cresce com a suposta atratividade do futebol brasileiro no cenário internacional.
O Brasil se destaca no mercado futebolístico por dois fatores principais: a qualidade e valorização de seus atletas e a atratividade financeira de seus clubes. O talento dos jogadores brasileiros é amplamente reconhecido e cobiçado globalmente, tornando o país um verdadeiro celeiro de craques. Além disso, clubes em dificuldades financeiras acabam desvalorizados, criando oportunidades para investidores adquirirem ativos a preços reduzidos.
Outro fator crucial é a disparidade cambial. Com o euro e o dólar em alta frente ao real, investidores estrangeiros enxergam no Brasil um mercado acessível e promissor. Essa combinação de fatores transforma o país em um alvo estratégico para grupos de investimento que querem lucrar com o futebol.

Multi-Clubes do Futebol — Foto: Observatório Social do Futebol
Contudo, essa atratividade também traz desafios. A reestruturação financeira e esportiva dos clubes exige planejamento e paciência, enquanto a imprevisibilidade econômica pode impactar os retornos esperados. Ainda assim, o Brasil continua no radar de investidores que buscam explorar seu potencial, seja na formação de talentos ou na valorização de ativos adquiridos.
Entretanto, há um sinal de alerta vindo da Europa: a onda das redes multi-clubes pode estar chegando ao limite! Dados da UEFA revelam que, em 2024, apenas oito clubes europeus foram adquiridos por essas redes, uma queda drástica em relação aos 37 casos do ano anterior. Esse é o menor número desde 2015, o que pode indicar que os investidores estão adotando estratégias mais conservadoras, preferindo aquisições minoritárias em vez do controle total dos clubes. Segundo a UEFA, a participação minoritária nesses conglomerados cresceu de 29% para mais de um terço em 2024.

Aquisições de clubes por redes (marrom) registrou a menor marca desde 2015 – mas entradas minoritárias (amarelo) ainda são significativas — Foto: UEFA
Evidente que essa queda podem ter outros motivos alheios ao futebol. A economia mundial está mais instável, principalmente pelas guerra da Rússia x Ucrânia que gera uma volatidade nos mercados europeus. Outrossim, o mercado americano tem sentido o reflexo do aumento de gastos, na proteção de seus aliados, nas guerras em curso, e tem sinalizado uma possibilidade de recessão.
Além disso, também existe uma saturação natural do mercado. Como os números de clubes sendo comprados foram muito altos nos últimos anos, é natural que a partir de determinado momento o número de clubes disponíveis para compra diminuam.
No Brasil, porém, essa tendência ainda não se consolidou. O mercado local segue como um campo de testes, especialmente no desenvolvimento das categorias de base. Recentemente, um empresário grego Evangelos Marinakis demonstrou interesse na aquisição do Vasco SAF, mas recuou pela insegurança jurídica encontrada. Marinakis é dono do Nottingham Forest (Premier League) e do Olympiacos (GRÉCIA). Este mesmo empresário hoje trabalha para se tornar investidor das categorias de base do São Paulo.
A resistência dos clubes associativos em vender o controle de suas SAFs também limita o avanço de estratégias multi-clubes mais complexas. Apesar disso, o interesse estrangeiro pode crescer, especialmente se a Argentina autorizar a implementação das Sociedades Anônimas Desportivas (SADs), ampliando o potencial do mercado sul-americano. A grande questão é: o Brasil seguirá a estabilização vista na Europa ou continuará sendo um terreno fértil para novas apostas? O futuro das SAFs e das redes multi-clubes segue incerto, mas uma coisa é certa: os próximos capítulos prometem grandes movimentações no futebol brasileiro!